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O noivado do melhor amigo do meu melhor amigo – uma história verídica.

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Faz 20 anos que sou amiga do meu melhor amigo. Acho bonito isso porque eu não tenho nenhum outro troféu de 20 anos, além dos meus 27 aniversários. Em algum momento da nossa adolescência, ele arrumou um melhor amigo extra. Estudavam juntos na mesma escola e dizia-se por aí que o cara era um crânio. Lembro de ter cruzado com o melhor amigo anexo em algum evento bobo, tipo pizzada de confraternização de alguma bobagem estudantil.

Com o tempo e com a internet, acabei virando amiga dele também. Passamos a nos falar todos os dias. E não nos víamos nunca porque ele morava em outra cidade e nós éramos teenagers e teenagers nunca têm dinheiro para nada que vá além de R$40 (pelo menos era assim no início desse século). Mas um dia ele teve que votar nas eleições da presidência.

Ele me deu rosas, mas para não ser meloso demais, também me deu cactus, mas para não ser espinhoso demais, também me deu uma samambaia, mas para não ser bobo demais, me deu um beijo e eu gostei. Meu melhor amigo repetia sem parar: isso-não-vai-dar-certo-isso-não-vai-dar-certo-isso-não-vai-dar-certo. Ninguém ouviu.

Obviamente alguma coisa deu errado. O coração dele ficou maior e mais acelerado que o meu. Me assustei. Pedi parcimônia. Depois, um tempo. Aí fiquei com um cara qualquer só pra ser tipo mulher-adulta-independente-que-lê-revista-Nova-e-é-senhora-do-seu-destino. Também fiquei com uma baita sensação de culpa e frustração. O melhor amigo do meu melhor amigo pegou leve e eu voltei. Namorados de novo.

A coisa foi indo ora bem, ora mal, ora qualquer nota. Depois de uma sucessão de discordâncias e sacos cheios, achei que fosse melhor parar por ali. Estava decidida. Isso. Até que ele apareceu de surpresa no meu trabalho (nessa época eu era sonoplasta do grupo de teatro da faculdade), me levou para um canto e começou a desfiar um discurso de arrepiar. A voz dentro da minha cabeça tentava tapar os meus ouvidos, mas não adiantou. Fui amolecendo, me deixando levar no embalo daquelas palavras tão bem escolhidas. E, como se não fosse o bastante, ele sacou uma caixa de jóias do bolso. Lá estavam reluzindo duas alianças de ouro e aí até a voz dentro da minha cabeça ficou muda.

Acho que novelas, seriados e filmes treinam as mulheres para terem a mesma reação diante de um par de alianças. Se alguém mostra um par de alianças pra você, sua reação é automática: um sim todo empolgado e choroso e um beijo-abraço e tal. Se o mundo todo faz isso, como é que eu ia fazer diferente? Colei o s, o i e o m em um beijo e estava noiva. No mesmo momento, enviei um SMS para minha mãe “Mãe tô noiva! bj. tchau!“, que me retornou com uma ligação enfurecida que nem consegui escutar.

Noiva aos 17 anos, ficava pensando quando é que nos casaríamos porque se não for pra casar, pra que noivar, né? Minha mãe ficou nervosa e improvisou umas bolinhas de queijo e coxinhas na garagem de casa. Lembro dela convidando a minha avó para a cerimônia relâmpago: “Oi, mãe! Você e o papai pode vir aqui em casa hoje? É a festa de noivado da minha filha. É, ela noivou ontem. Não, não, ela não está grávida“. A lembrança que eu tenho dessa festinha é bem caída, mas sei que no dia eu estava bem feliz. Até que meu noivo teve que pegar o ônibus das 21:45 rumo a sua cidade.

Em algum momento da história, ele confessou que o noivado havia sido um engano. Digo, a intenção dele ao me mostrar as alianças era mostrar que ele acreditava o bastante na gente e sabia que a gente casaria no futuro. Percebi que noivei sem querer e me achei meio burra. Depois pus toda a culpa na falta de referência cultural dele e continuei noiva, fazer o quê?

Tempos depois, ele foi morar na mesma cidade que eu. E até foi trabalhar no mesmo lugar que eu. E começou a se infiltrar no meu cérebro. Um dia me senti uma filial dele, sob nova direção. Não gostei. E terminei o noivado comendo lasagna porque a minha mãe que tinha feito e eu estava com fome. Ele ficou puto e foi embora. Eu fiquei leve e fui dormir. Meu melhor amigo ficou feliz da vida e voltou a estudar para algum de seus milhares de concursos públicos.

Passados alguns dias, ele quis conversar comigo. Pediu a aliança de volta e falou uma porção de bobagens, no melhor estilo de mau perdedor. Não me deixei abater. Pena que minha atitude “fiz o que era melhor e vou seguir com minha vida” não durou muito tempo. Para dizer a verdade, durou até minha mãe me chamar e dizer: “seu pai e eu fomos conversar com seu ex-noivo e sua ex-sogra porque eles falaram que tinham coisas muitos importantes a dizer e que você estava correndo perigo.” Oi?

Continua no próximo post.

 

 

 

 

 

 

 


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