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Tomei um pé na bunda e meio na minha vida. O meio nem conta porque foi de namoradico dos tempos de escola. Já o outro, catapumba. Foi uma bomba atômica lançada no meu peito. Passei um mês tentando parar de chorar. Para superar o trauma, foram necessários muitos outros meses. Mas tudo bem: aprendi uma porção de coisas com isso. E quis fazer a fila andar na marra. Então eu achei um cara.
O cara era da espécie que eu mais apreciava: loiro, barbudão, estiloso e de olhos claros. Começamos a trocar umas letras pela internet e eu sabia que esse cara era O cara. Ele tinha uma banda, ele customizava roupas, ele lia livros que eu lia, ele tinha o mesmo gosto musical que o meu, ele amava o meu filme favorito. Quando você tem dezenove anos é muito fácil encontrar o amor da sua vida.
Um dia nos encontramos em um show. Foi quando nos vimos no mundo real pela primeira vez e aí tive a plena certeza de que casaria com aquele cara. Ganharíamos dinheiro com sua marca de roupas e nossos violões, tocaríamos na nossa própria banda, acordaríamos rindo, faríamos sexos infinitos, teríamos dois filhos meninos loiros e de olhos claros. Certeza.
Nos beijamos depois de uns segundos. Depois daquele beijo, minha certeza se banhou em fermento. A cada olhar-palavra-toque eu sabia cada vez mais: era ele. Só ele poderia tirar meu coração da geladeira e curar o estrago que o outro fez. Só ele me mostraria um jeito legal de viver, mais cinematográfico, mais indie, mais cheio de emoções. Me imaginava apresentando o cara para meus pais, já podia vê-los abraçando o cara quando soubessem que seriam avós, tentava adivinhar que apelido minha irmã daria para ele.
_Me solta um pouquinho?
Juro que ele disse isso. Me solta um pouquinho. Me solta um pouquinho?
_Você parece um polvo. Pára de me beijar, me larga um pouco. Eu quero ver o show.
Soltei. Tudo bem, ele só queria ver o show. Tudo bem ele não gostar de ficar beijando muito tempo. E ele sumiu. Numa casa de shows do tamanho de um apartamento da classe média alta paulistana, ele sumiu. Meus amigos perguntavam: e aí? Ficou com ele? Foi legal? Eu respondia que sim e só. O cara voltou depois de uma hora. Disse que estava indo embora, não podia perder a van rumo a sua cidade. Minhas feições foram derretendo, tinta a óleo no calor de Blumenau.
_E a gente?
_O que tem?
_Você vai embora e eu quero saber como a gente vai fazer com a gente? Sei lá. Você ao menos gosta de mim?
_Eu vou casar com você.
ELE DISSE ISSO. Leu minha mente e fez meu cérebro nadar em endorfinas, vitaminas, cristinas. Sob o limoeiro do estacionamento, uma lua preguiçosa e um céu que não cabia em si.
_Você vai casar comigo?!?
_Vou, mas não agora porque preciso ir embora.
_Tá bom.
Ele olhou para cima como se estivesse buscando uma solução ou algumas palavras. Arrancou um limão da árvore e o colocou nas minhas mãos.
_Esse limão aqui é o símbolo do nosso amor. Ele é tipo um casamento.
_Tá bom.
_Cuida desse limão porque ele é o nosso amor.
Entrou na van e me deixou com olhos brilhantes e um limão esmagado entre duas mãos esperançosas. A van já estava na esquina quando o amor transbordou do coração e gritou: Nós vamos nos casar! Ele pôs a cabeça para a fora para responder: Um dia!
Levei o limão para meu quarto e por lá ele ficou durante semanas. O cara não respondeu mais meus emails, nem aparecia para nossas costumeiras conversinhas na internet. Fiquei impressionada com a durabilidade do limão, que ao invés de apodrecer, foi endurecendo até virar uma pedra cinza. Enviei o menor email do mundo para ele. Dizia: o limão virou pedra. Ele respondeu depois de uma semana, batendo meu recorde de menor email do mundo: que limão?
Então eu soube que ele não era o cara e, tempos depois, concluí que paguei o maior papel de maluca da história.
Mas que esse negócio do limão foi sacanagem, isso foi.